Viver com frugalidade não é uma novidade para Vera Monteiro, Mariana
Arrobas ou Sara Rodrigues, todas matriarcas de famílias numerosas. Desde
que viram a família aumentar uma e outra e outra vez, que o orçamento
familiar passou a ser gerido com bastante mais criatividade e jogo de
cintura. A crise económica apenas as fez apertar ainda mais o cinto.
Conheça os truques destas mães para poupar em tempos de crise.
Apesar da dificuldade que é sustentar uma família grande, em que
diariamente se sentam entre seis a sete pessoas à mesa, a alegria é
contagiante e, por vezes, a poupança surge de forma natural. “Com uma
família numerosa os meus filhos brincam muito uns com os outros. Fazem
peças de teatro, tocam música, é uma festa constante sem gastar
dinheiro”, contou-nos Sara Rodrigues, mãe de quatro filhos entre os nove
e os três anos e escritora na editora “O Livro da Minha Vida”.
O ano ainda agora começou, mas as medidas de austeridade que têm
pairado sobre a cabeça das famílias portuguesas não dão tréguas.
“Presentemente aumentaram-nos o escalão de IRS, retiraram-nos o abono de
família e tivemos de devolver o equivalente a três meses desta
prestação. Só recebíamos 150 euros por mês, mas faziam falta”, disse
Vera Monteiro, educadora de infância desempregada, mãe de cinco filhos.
Mariana Arrobas, veterinária em regime ‘freelancer’, com cinco
filhos, também está na mesma situação. “Estamos muito apreensivos, há
muitas incógnitas neste orçamento de Estado e muitas coisas que não
dependem de nós. Mas é preciso ter esperança e aguardar por tempos
melhores”, afirma.
Gerir uma família numerosa com menos rendimento
Para além das suas profissões, estas mães têm ainda outra função
essencial dentro de casa: gerir uma família numerosa. Depois de pagas as
contas fixas do mês, é nas saídas para as compras de supermercado que
mais sentem a austeridade. “A alimentação é o maior gasto. Só em carne
gasto cerca de 300 euros por mês, em peixe também, fora leite, arroz,
iogurtes, massas, fraldas, leite para o bebé…”, afirma Vera
Monteiro.Para esta mãe de cinco filhos e desempregada, emigrar é uma
hipótese em cima da mesa. “Penso muitas vezes nisso, mas é muito difícil
porque temos cinco filhos e eles têm a sua vida aqui, escola e os
amigos… mas incuto-lhes esse pensamento, que devem aprender outras
línguas para terem hipótese de emigrar com sucesso”, prossegue a
educadora de infância. Para obter rendimentos extra, por vezes toma
conta de crianças.

Vera Monteiro e a família
Já Mariana Arrobas também lamenta a redução nos seus rendimentos. “Em
Dezembro comecei a sentir as pessoas a cortarem no veterinário. Muitas
vezes pedem procedimentos a pagar em duas ou três vezes e alguns nem
cumprem os pagamentos”. Para conseguir rendimentos extra, a veterinária
costuma fazer uns trabalhos de tradução, que “caem sempre na altura
certa, quando temos despesas maiores”, brinca.
Sara Rodrigues, escritora freelancer, diz já estar habituada a
trabalhar assim, “Este é um mercado muito volátil, embora não tenha
falta de trabalho, por vezes há falta de pagamento”.
Com os rendimentos a encolherem e as famílias a aumentarem, é
necessário uma logística cada vez maior. “Temos de ter uma organização
muito maior. Por exemplo, nós começamos a pensar no Natal em Setembro,
que é quando começo a fazer umas compras para eles. Embora não
ofereçamos muitos presentes, eles têm sempre uma gracinha. A seguir ao
Natal começamos a pensar nas férias grandes, para conseguirmos bons
preços”, explica a escritora.
Além do desafio de ter de ir às compras sempre à procura do desconto e
da marca branca, há alturas do ano em que têm de fazer contas à vida
para encarar as despesas extra. “Nem sempre é fácil, às vezes há noites
mal dormidas a pensar como é que vamos chegar ao fim do mês,
principalmente naqueles meses em que há despesas maiores, como os
seguros”, diz Mariana Arrobas.
Para Vera Monteiro, esta altura acontece todos os meses: “A meio do
mês já estamos com a corda ao pescoço, a pensar o que é que vamos meter
na lancheira para os miúdos levarem para a escola, mas com criatividade
consegue-se sempre”
Dicas de poupança destas super-mães
Muitas das dicas de poupança são transversais a estas três famílias
numerosas, principalmente a criatividade necessária para gerir o
dinheiro mensal, que nem deixa espaço para a poupança. “Temos aprendido a
cortar as gorduras do orçamento familiar e procuramos poupar
eletricidade, água e gás”, diz Mariana Arrobas, recorrendo a uma
expressão que ficou conhecida quando a equipa de Passos Coelho chegou ao
Governo.
Viver dentro das suas possibilidades é o lema desta família. “Não
compramos nada a prestações, exceto se for um automóvel. Quando queremos
comprar algo e não temos dinheiro para pagar a pronto, então esquecemos
ou amealhamos durante uns meses até que seja possível comprar”, conta a
veterinária.

Os quatro filhos de Sara Rodrigues
Para além deste cuidado na gestão do dinheiro, há outros a ter no
dia-a-dia. “Os miúdos estão na escola publica e não estão no ATL”, diz
Mariana Arrobas.
Na hora de ir às compras, estas três famílias preenchem grande parte
do carrinho com marcas brancas e são incansáveis na procura de promoções
mas “não compro coisas unicamente porque estão em promoção, só quando
compensa realmente”, prossegue Mariana Arrobas. Já Vera Monteiro apenas
compra “comida a granel, em vez de enlatados e deixou de haver gastos
supérfluos, como bolicaos ou doces e passaram a comer pão com manteiga,
que até é mais saudável”. Além disso “nunca levo os miúdos ao
supermercado”.
Todas as refeições têm de ser muito pensadas e ir jantar fora é muito
raro. “As nossas refeições além de terem de ser fáceis de cozinhar,
precisam ser económicas, à base de massas e arroz”, diz Mariana Arrobas.
Neste campo, Sara Rodrigues aproveitou os ensinamentos do tempo de
escuteira: “Aprendi muito a poupar neste campo, a fazer grandes
travessas de comida e aproveitar os restos”.
Idas ao cinema de forma regular também são para esquecer: “Vemos os
filmes depois em casa, na televisão, fazemos pipocas e adotamos
programas mais caseiros”, explica Mariana Arrobas. Já Sara Rodrigues
afirma que o seu gosto pelo teatro faz com que tente levar a família uma
vez por mês a ver uma peça, “mas claro que olho sempre para o preço e
estou sempre atenta a promoções”, prossegue a escritora.
Nas telecomunicações também se pode poupar. “Ainda nenhum dos meus
filhos tem um telemóvel, mas a mais velha já anda a pedir porque os
amigos todos já têm. Só lhe vamos oferecer quando acharmos que é
pertinente ter um. Ela tem um email quando quer trocar mensagens com os
amigos, queo faça através da internet”, conforme explica Mariana
Arrobas.
Para conseguir maiores poupanças, estas famílias procuram sempre
herdar roupa de filhos de familiares ou amigos que já não necessitem. A
única exceção são os sapatos. “Nunca compro roupa. A roupa passa de uma
para a outra e o meu filho veste a roupa do primo. Quando precisam de
alguma coisa, vou à Primark”, exemplifica Vera Monteiro.
A importância de falar sobre dinheiro
Numa família numerosa, em que cada compra implica fazer contas,
devera existir uma grande abertura na hora de falar sobre dinheiro. Na
família de Mariana Arrobas está instituído que “não há tabus sobre
dinheiro e que as coisas custam dinheiro. Se eles pedirem e receberem
logo, não lhes ensina nada sobre o valor das coisas”. Alem disso, “têm a
sua conta bancária e recebem o extrato todos os meses”.
A mesma técnica e utilizada por Sara Rodrigues, “eles tem um
porquinho mealheiro para quando recebem dinheiro e que depois vão por na
conta bancária. Gostam de ver o extrato e no supermercado não tem
hábito de pedir, não são pedinchões”, afirma.
Mesmo tendo de abdicar de pequenos luxos, como idas ao cabeleireiro
ou viagens de férias, estas três famílias são a prova de que, mesmo em
crise, não deve descartar o sonho de ter uma família numerosa.
in saldopositivo.cgd.pt